Resenha #339: Aqui Estou - Jonathan Safran Foer

Título: Aqui Estou
Autor: Jonathan Safran Foer
Título original: Here I Am (2016)
Tradutor: Daniel Pellizzari & Maíra Mendes Galvão
Editora: Rocco
Edição: 1
ISBN: 978-85-325-3057-8
Gênero: Romance Estrangeiro
Ano: 2017
Páginas: 592

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RESENHA


"Aqui Estou", publicado em 2016, é o terceiro romance de Jonathan Safran Foer traduzido para o português. Para compreender a origem de seu título, é necessário voltar a uma das mais conhecidas passagens do livro do Gênesis, onde Deus ordena que Abraão sacrifique o próprio filho e para comprovar a sua fidelidade Abraão responde: "Aqui estou". 

Fazia onze anos que Foer havia publicado o então "Extremamente Alto & Incrivelmente Perto", ao longo desse tempo publicou "Comer Animais", um ensaio sobre o consumo de carne vermelha. Dada a dimensão da obra, é compreensível a demanda de tempo que o autor precisou para desenvolver uma trama, que apesar de se passar em um curto período de tempo, consegue nos dá relapsos do passado e futuro de suas personagens afim de tornar a obra grandiosa, não só em seu tamanho de páginas.

Narrado em terceira pessoa (e em um determinado momento em primeira), tudo começa com Jacob e Julia sendo chamados para uma reunião com o rabino da escola onde Sam, seu filho, estuda. O garoto é acusado de ter escrito frases obscenas e racistas num papel encontrado na sua carteira escolar (o que ele nega ter feito). Além de Sam, que está prestes a passar pelo Bar Mitzva (ritual judeu que leva a vida adulta), o casal tem mais dois filhos chamados Max e Benjy. Com esse acontecimento, as estruturas da relação de Jacob e Julia começam a ruir, o que vem a se agravar com o encontro de um celular contendo mensagens sexuais e, posteriormente, com mais um conflito: um terremoto que destrói Israel; mesmo o casal vivendo em Washington, uma realidade distante do Oriente Médio. 

Jacob, o personagem central, se vê questionado sobre o seu papel como judeu americano e o que poderá fazer para ajudar a Israel. Entra em questão também essa medida, será que por viver nos Estados Unidos ele é menos judeu do que os ortodoxos? Será que ele deve ir à guerra provar o quão é judeu, como Abraão fez ao se prontificar para Deus? O personagem pondera, contudo, não é uma escolha tão fácil deixar a família, os filhos e até o casamento que passa por uma crise. E mesmo que ele vá batalhar, como fazer se nunca pegou numa arma ou teve contato com essa realidade?
Uma sucessão de acontecimentos são descritos ao longo da narrativa que chega a suas quase 600 páginas. De forma fragmentada é possível navegar pelas gerações da família Bloch, passar por conflitos emocionais e conhecer um pouco mais sobre o judaísmo, suas tradições e as dores que permeiam essa religião abalada por conflitos, sejam eles do passado (antissemitismo) ou em constância (islamismo).

Apesar de ser uma obra madura, pelo seu tamanho, há alguns diálogos e até mesmo informações desnecessárias que facilmente poderão ser puladas sem fazer falta, mas que dão um diferencial peculiar a obra e que é um estilo do autor. Por exemplo, informações a respeito de cachorros que são batizados com nomes de furacões atlânticos, e até descrição de uma conversa em linguagem de sinal. Por outro lado, o autor traz grandes diálogos principalmente se prensarmos nos discursos de Deborah no casamento de Julia e Jacob, além dos belos discursos de Sam e Max em seus Bar Mitzvahs.

Os personagens de Foer são verossímeis, e as suas histórias (com foco em Jacob) têm muito em comum com a do autor que se divorciou antes de escrever esta obra. Embora o mesmo diga que não tenha se inspirado na vida real. O lado engraçado do livro é mostrado através das crianças, principalmente por Benjy e sua sinceridade. Já o lado triste vem da morte, da tragédia em Israel e a crise conjugal que reestruturar a família Bloch. 
Aqui Estou é um romance maravilhoso e Safran Foer, como em seus romances anteriores, nos traz uma experiência única, com sentimentos que nos fazem rir, chorar, nos provoca, nos questionam enquanto lemos sobre busca por um lugar no mundo, identidade, viver em família, conflitos políticos e sociais. No fim, concordamos com a afirmação "A vida é preciosa, e eu vivo no mundo", quando ao mesmo tempo o mundo parece tão grande e nos sentimos tão solitários que precisamos nos segurar em alguma coisa, nem que essa segurança venham dos filhos. Assim é este livro, uma forma de vermos e projetarmos nossas vidas afim de não sermos mais um ponto pálido no universo, afim de nos encontrarmos e fazermos o diferencial na vida de outras pessoas, sem enganá-las ou nos enganarmos.



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